Olá pessoal. Hoje apresentarei um conto do escritor realista Machado de Assis, um dos maiores contistas. Espero que gostem, caso de dúvidas entre em contato comigo que esclarecerei!
Eu amo muito Literatura e conhecer contos, romances de outra época. Peço que não leiam livros, contos, romances, etc, com uma mentalidade atual, sempre devemos entender o contexto da época que a obra foi escrita. #Dica. Bjoos! Segue a análise abaixo...
Esta é a apresentação de uma
proposta de análise do conto de Machado de Assis, O Enfermeiro, publicado em
1968. Trata-se da apresentação dos personagens, tais como as suas
características e ações. No conto os personagens são mencionados nos primeiros
capítulos e no decorrer dos acontecimentos. Machado de Assis é um dos maiores contistas do moderno
conto brasileiro. Em “O Enfermeiro”, observa-se o profundo pessimismo quanto ao
comportamento humano. A
história apresenta uma forma muito particular do autor em observar o mundo,
principalmente quanto a conduta humana. Faz o leitor se passar por Procópio e
refletir sobre suas próprias ações, moral e ética na situação do protagonista.
A narrativa conta a história de Procópio, um
enfermeiro que, a pedido de um amigo e vigário, aceita ir até uma fazenda
prestar cuidados a um Coronel ranzinza e maldoso, o Sr. Felisberto. O enfermeiro passa a cuidar do coronel, que entre outros
traços insuportáveis tem a agressividade e a intolerância como marcas. O
enfermeiro, aparentemente mais preparado que os anteriores, resiste à
tradicional fúria do paciente até o dia em que, diante de uma violência
desmedida, perde o equilíbrio e esgana, de modo fatal, o doente, que no clima
de ambiguidade da narrativa pode ter morrido em função da ação do enfermeiro ou
em consequência de alguma enfermidade pré-existente. Ocorrendo um impasse; um
drama que se instala na alma do enfermeiro.
O conto possui uma verossimilhança,
lógica interna dentro da narração, ou seja, nos mostra fatos dentro da
narrativa que permite o leitor aproximar o que lê do que é real, considerando a
possibilidade de acreditar no que realmente está escrito apesar de ser um texto
fictício. Como exemplo de verossimilhança está a intolerância de idosos e maus
tratos de enfermeiros no ato de sua função.
O personagem é a criação fictícia de
uma pessoa que pode ser protagonista, antagonista ou secundárias. O principal é
Procópio que conta os fatos em primeira pessoa sobre acontecimentos em que
estava envolvido. Ele não é herói por que não é superior ao seu meio social. O
antagonista se opõe ao personagem principal que se enquadra à características
do Sr. Felisberto por
O enredo é bem apresentado, mantendo a
sua trama linear, uma estruturação definida de começo, meio e fim. Existem
vários tipos de narradores que podem estar em primeira ou terceira pessoa. Em
terceira pessoa existem outros tipos de narradores entre eles são o onisciente,
ele sabe de tudo além dos sentimentos e personalidade das personagens, que pode
se encaixar como intruso ou neutro. O onisciente intruso argumenta sobre o seu
ponto de vista dentro da narrativa: “Mas
já são muitas ideias – são ideias demais; em todo caso são ideias de cachorro,
poeira de ideias – menos ainda que poeira, explicará o leitor”. Assim ele é
livre para jugar e se posicionar dentro do enredo. Posteriormente podemos
encontrar o narrador onisciente neutro ou chamado de parcial que é ao contrário
do intruso: ele apenas narra a trama como ela é mas sabe de tudo e mais um
pouco sobre os fatos e envolvidos. Neste conto O Enfermeiro o narrador está em
primeira pessoa e se encaixa como narrador personagem, que conta a história sob
o seu ponto de vista de maneira parcial. Este tipo de narrador tem marca de
subjetividade, ou seja, expressa suas emoções ao contar a narrativa que ocorreu
em 1859, no mês de Agosto, em Niterói, onde se formou em teologia com quarenta
e quatro anos de idade. Copiava escritos de um padre até que este um dia
recebeu uma carta de recomendação de um vigário de certa vila do interior e
indicou Procópio que foi cuidar desse Coronel que morava em uma fazenda perto
do vilarejo. Temos o espaço urbano e natural intercalados no conto. Há presença
do cemitério, vilarejo, fazenda, Niterói e entre outras marcas de espaço e
tempo ao decorrer da história.
O enredo tem sua própria construção
dentro da narrativa sendo sequencialmente apresentadas por: introdução,
complicação, clímax e desfecho.
A introdução é a apresentação dos personagens e do que se
trata a história a ser contada. Começa passando informações ao leitor para
depois entender o desenrolar da narrativa. Começa com o ano que se passa a
trama, quem está envolvido, o que acontece. Nesse caso Procópio é mandado para
uma cidade do interior para trabalhar como enfermeiro de um Coronel ranzinza em
uma fazenda como indicação do padre de quem copiava escritos: “Já sabe que foi em 1860.” “...Naquele
mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do
interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que
quisesse ir servir de enfermeiro ao coronel Felisberto, mediante um bom
ordenado”.
A complicação é marcada por um conflito ou melhor dizendo
as ações que ocorrem na trama. Todo enredo precisa existir um conflito com um
ou mais personagens, sendo o foco principal prender a ação do leitor. O
conflito na história acontece a partir do momento em que o coronel começa a
tratar mal Procópio que acaba cada vez mais se estressando: “Não tardou a ocasião. Um dia, como
lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e atirou-me dois ou três
golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala.
Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena
zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.”, “Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias
ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava
mais por nada; era burro, camelo, pedaço d’asno, idiota, moleirão, era tudo”.
Se tratando do clímax, é o ponto da
narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, está no ápice dos
acontecimentos, tornando o desfecho inevitável. É o momento de maior tensão
dentro da história. No caso do conto O Enfermeiro acontece no momento em que o
Procópio se cansa das injurias do Coronel e começa a enforcá-lo, sufocando até
a morte: “Ele, que parecia delirar,
continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la
contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda,
e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço,
lutamos, e esganei-o.
Quando
percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me
ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o
aneurisma, e o coronel morreu.”
O desfecho é a conclusão ou solução do
conflito produzido pelas ações dos personagens, sendo eles bons ou ruins. Há
vários tipos de desfechos. O desfecho acontece depois da morte do coronel e a
herança dada ao enfermeiro que começa a tirar o peso da sua consciência achando
que de qualquer forma ou outra ele deveria morrer por que tudo o que passou ele
se fez merecedor do dinheiro: “Os
anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no
coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei
as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de
ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a
descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que
não fosse aquela fatalidade...”.
A presença da analepse é destacada no texto por relatar algo do passado
para o leitor no presente. Os signos apresentados mostram Procópio como um humano comum, porém com
fortes indícios irônicos. As atitudes por ele apresentadas, demonstram
claramente as imperfeições éticas presentes nos seres humanos. Um objeto
significativo é a muleta do Sr. Felisberto que batia no enfermeiro como se
fosse seu escravo e ele dono e que podia fazer o que quisesse.
A doação da herança para o enfermeiro
indica a possibilidade da falta de opção por não ter mais ninguém por que as
pessoas não gostavam de seu comportamento ou por outro lado mostra que o homem
poderia ser estressado, de difícil temperamento mas que ainda sim possuía bom
coração generoso e reconhecia o esforço do enfermeiro que estava a sua
disposição. Também há presença de passagens bíblicas na história e citações de
Caim no qual faz a comparação de Caim com ele mesmo ao matar Abel seu irmão ou
no caso um irmão por parte de Deus: “Caim,
que fizeste de teu irmão?”.
O texto
apresenta uma estrutura social baseada em privilégios onde o ser humano é
alterado pelo dinheiro pondo em destaque a ganância do lucro, egoísmo,
calculismo e as vantagens sociais, além da transformação do homem.
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